Quando pensamos em salas de aula, logo nos vem à mente o modelo tradicional, quadro, professor, mesas e alunos. O professor, de maneira geral, ensina, repassando o seu conhecimento através do conteúdo aos alunos, seja oralmente, no quadro, com exercícios ou práticas. Não estou falando que essa forma de ensinar, de maneira alguma, é errada e usamos a milênios com considerável sucesso. Mas notem que do mesmo jeito que a sociedade evoluiu, mudou, se adaptou, a educação também precisa mudar, se atualizar. Mas, até aqui, nada novo, como podemos ver neste artigo que relata boas práticas para melhorar o aprendizado, escrito em 1987 (Chickering and Gamson) e 1991 (Sorcinelli).

Precisamos, cada vez mais, mudar o conceito de que o professor é o centro do aprendizado, que é a pessoa na sala que precisa saber tudo, que precisa deter o conhecimento e que não pode dizer não sei. Precisamos possibilitar que aluno seja e se sinta o centro do seu próprio aprendizado. Que ele seja capaz de pensar, raciocinar e que busque as informações necessárias para montar o seu modo de aprender, de acordo com a sua base de conhecimentos e suas necessidades de investigação, ao seu tempo e com as características que para ele, individualmente, funcionam. Estamos fazendo com que os alunos pensem cada vez mesmo, diminuindo o pensar, acabamos com o instinto de resolver problemas e chegar a soluções inteligentes.

Mas, mudar a forma tradicional de ensino é quebrar diversos paradigmas e ir contra uma grande maioria. Já escutei aluno falando que o professor “não dava aula” e que nesse formato ele não conseguiria aprender. Que o professor só passava atividades e discussões em equipe para depois discutir com toda a turma sobre determinado assunto. Essa forma de ensinar, que este aluno em particular não aprovou, tem excelentes resultados quando os conhecimentos a serem estudados possuem uma diversidade de respostas e não são limitados apenas no certo e errado. É uma das formas em que os alunos mais aprendem e realmente adquirem o conhecimento, com um pensamento e construção das ideias que fazem sentido para ele. Cabe ao professor, mediar, como Vygotsky sugere, esse processo para que o estudante não se desvie do objetivo ou se perca em um mar de informações disponíveis hoje em dia.

O uso de ambientes colaborativos são comuns em atividades voltadas para o trabalho em equipe com liberdade de pensamentos e quando os professores não querem limitar a imaginação dos alunos, fazendo com que eles consigam pensar de maneira ilimitada. Não estou dizendo e nem concordo que para uma aprendizagem diferente, precisamos de um ambiente colorido e com puffs. Já viram aquele professor que ensinava o uso do Word no quadro com giz porque não tinha computador, ele não tinha puffs coloridos, com certeza.

Entretanto, para se fazer a aula colaborativa funcionar, ela precisa ser pensada e planejada para tal. Diversos estudos comprovam que o aluno praticar ou até mesmo ensinar, aumenta o seu aprendizado de forma significativa. Neste sentido, duas abordagens são bastante utilizadas pelos professores: conceito, prática e fechamento ou prática, conceito e fechamento. Ambas funcionam e precisam ser adaptadas e escolhidas de acordo com os alunos, professor e conteúdo a ser ensinado possibilitando a construção do conhecimento (Piaget, 1945).

Nestes casos, ao desenvolver uma educação colaborativa, as etapas, metas e conhecimentos que serão absorvidos naquela aula precisam ser planejados de acordo com as necessidades de aprendizado. A principal função do professor em um processo de aprendizado colaborativo é identificar as necessidades individuais de cada aluno e direcionar as suas atividades, estudos e tarefas para que ele consiga melhorar suas habilidades individuais e consequentemente em grupo. Enquanto não conseguimos usar Inteligência Artificial na educação, cabe ao professor estar atento e compreender as necessidades de cada aluno de forma quase individualizada.

Isso só é possível se o professor conseguir inverter o formato da aula para que ele não fique 90% do tempo ensinando em um quadro, em um formato que provavelmente nem metade da sala consiga aprender. Lembra daquele conceito de estilos de aprendizagem, visual, auditivo e cinestésico, pois é! Ao transferir o formato da aula para algo colaborativo, onde as discussões serão realizadas entre os alunos, em grupos, com necessidades direcionadas para cada parte da aprendizagem, diferentes formas de ensino e aprendizagem serão desenvolvidas simultaneamente, aumentando significativamente a capacidade de aprendizado de diferentes perfis de alunos.

Mas isso tudo funciona em qualquer disciplina, de qualquer curso, de qualquer série, para alunos de qualquer idade? Sem sombra de dúvidas, não! Quando falamos de boas práticas na educação precisamos estar atentos aos diferentes cenários e acima de tudo, entender que nada na educação será uma receita de bolo. Você professor, já notou que o mesmo assunto em diferentes turmas tem um ritmo, expectativas e resultados diferentes. Todos nós quando alunos, já notamos um professor ensinava de diferentes maneiras, às vezes somente pelo conteúdo ser diferente ou por estar em um dia melhor ou pior.

Se não temos uma receita de bolo, cabe a nós educadores estarmos preparados, com diversas estratégias e com a capacidade de adaptação para entender as necessidades de cada aluno, turma ou mesmo conhecimentos e fazer diferente. O que às vezes, significa fazer uma aula tradicional, com quadro e giz.

Referências

Enhancing Student Learning: Seven Principles for Good Practice

Estilos de Aprendizagem – Teoria e prática dos estilos de aprendizagem

Ghanaian teacher uses blackboard to explain software